Noite que dormita, às vezes canta, às vezes soluça. Passos que vagueiam em direção incerta, sem hora certa. No fundo, no fundo é apenas uma maneira de tardar o temido encontro. Seus olhos nos meus buscarão respostas que não mais poderei dar... O silencio é um atalho quando não se pode pegar a estrada. No seu rosto os sulcos imiscuem-se num sorriso sem graça. Interrogações percorrem o cerne de sua mente, Mas o amor e a razão não caminham de mãos dadas...
O vento soprava lânguido balançando lentamente os galhos da enorme castanheira. Suas grandes folhas, mescladas de verde e vermelho, dançavam freneticamente ao sabor do vento. Ao longe o burburinho dos transeuntes era quase inaudível. Seguiam entre falas e risos em passos ritmados. A grande janela de vidro tornara-se cúmplice da minha quietude. Recostada no alpendre nem conseguia acompanhar a velocidade dos meus próprios pensamentos... Quiçá alguém pode ter notado meus lábios se entreabrirem num sorriso de cantinho e, o riso desvanecendo-se antes que a boca tomasse sua forma natural. Apalpei-a com as pontas dos dedos... Meus olhos se fecharam vagarosamente... Pelo simples toque da lembrança...
No ápice da loucura costuro asas. Discordo do sistema, refaço frases.
Derrubo muros e rabisco paredes, contando meus versos aos paralelepípedos.
O tic-tac zomba da inocência; da meninice no meu corpo de mulher.
Ouve-se ao longe o soar dos sinos; suas gargalhadas frenéticas abafam o
clamor do profeta que suplica para que o sol pare por alguns instantes.
Oh tempo! Rude tempo...
Cônscio de sua imortalidade envaide-se o tirano; faz desabrochar o botão
e na plenitude de sua beleza em flor, faz desfalecer suas pétalas.
Corrompe-se em glória o bárbaro à dor da minha saudade. Precipita-se
velozmente me arrastando com ferocidade; em suas infindas asas atravesso vales
de lírios. Contemplo o choro de um rio... Que se deságua em lágrimas em busca
do imenso mar... E, o vento com sua valsa estonteante abraça a montanha
silenciosa... Sozinha sou deixada no cume de uma montanha, ao sabor da chuva,
ao cheiro da relva, desfalecida nos braços da solidão... De joelhos, prostrada,
ergo meus braços ao céu e grito seu nome:
Onde está você, amor???
Ao longe se ouve meu suplício que atravessa o desfiladeiro.
Chilrea a cotovia e sinto esmorecer a esperança de te encontrar um dia. Mas sua lembrança é uma chama de esperança
que renasce em mim.
E sussurro: Preciso de você...
A noite vestiu seu longo vestido negro. Vaidosa ataviou os cabelos com
seu véu escarlate e num tom desprezível dispensou o luar. Não sei se por pena
de mim... Ou pra que não me visse chorar...
E na penumbra se vê um brilho opaco e sem vida, uma drácma perdida, uma
algema de ouro no meu dedo anular. Está cravada a espera de um guerreiro, único
capaz de tocar a Escalubur.
No seu castelo de areia com portões de ferro, uma silhueta bela, pela
janela contempla o infinito. Um grito mudo, de um silêncio insuportável ecoa na
imensidão dos seus jardins suspensos.
Então o vento se compadece e viaja com pressa o mensageiro. Leva
consigo uma fagulha, uma chama... Uma canção de quem ama... Embalados numa
etérea melodia.
Sendo longa a viagem descansa, até o vento se cansa, de longínquo que
é. Mas logo se apressa e, na busca incessante deste amor a natureza se enfurece...
Os raios imponentes com seus clarões assustadores recortam os céus
impiedosamente num misto de terror e beleza.
E de repente!
O clarão de um raio avista você!
O mundo pára!
O vento sinfonicamente te chama... Em soluços implora...
Uma expressão indecifrável circunda seu olhar...
Olha rapidamente de um lado para o outro. Os lábios se estreitam, parecem
querer dizer algo, mas nada dizem.
Será que você não vem...?
Talvez tenha outro alguém...
E, baixando os olhos, tristonho e com feição de derrota, o vento alça
seu vôo, sempre afobado tem que soprar. O tempo não espera...
Será que você não vem...?
Que seu coração ouça meu chamado, que sinta a doce carícia da brisa que
carrega consigo o amor transcrito em partitura, para sussurrar em seus ouvidos
tudo que está adormecido pra acordar quando você chegar... Antes que os olhos do tempo descortinam-se em
escuridão, num piscar lento e doloroso...
Hoje acordei frustrada. Despertei subitamente de um sonho maravilhoso. E quem não fica com cara de “Dunga” quando interrompido justamente no momento mágico do beijo? Sei que essa teoria muitos já conhece, mas não à minha maneira..
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O beijo...
Momento em que os lábios se unem. Instante único em que nosso corpo é atingido pelas mais primitivas e prazerosas sensações. O beijo estimula a parte do cérebro que libera endorfina na corrente sangüínea, criando uma sensação de bem-estar. Nosso corpo reage sistematicamente e só nos damos conta das loucuras que fizemos depois que tudo acontece. A paixão é tão intensa que nosso corpo movimenta cerca de 29 músculos; ao mesmo tempo, a pressão que o rosto de uma pessoa exerce sobre a outra chega a 12 quilos. E nessa deliciosa valsa lingual pelo menos 250 bactérias são compartilhadas. Poucos prazeres físicos podem ser comparados ao proporcionado por um bom beijo, daqueles demorados, intensos e saborosos, os rápidos e ardentes ou até mesmo o roubado. Os batimentos cardíacos passam dos normais 70 para 150 por minuto. Um beijo muito entusiasmado pode encurtar a vida em três minutos. Daí pode ser tarde demais... Ou simplesmente maravilhoso... E o tempo parou parou por alguns instantes...
O céu denotava um azul tão fascinante que tive a sensação de estar no paraíso. Nossos cabelos revoavam ao sabor do vento, tocavam-nos nos olhos insistentemente. Acho que nos perdemos no universo, pois não se via nenhum ser vivente. Só eu e Ele... Olhávamos fixamente um para o outro, sendo a primeira vez - compartilhávamos o mesmo sentimento. O silêncio trajado de magia... Desnudado de utopia. Ele desviou o olhar e fixou-os em meus lábios. Olhos gentis, porém intensos, pareciam amolecer meus ossos.
_Quantos centímetros têm seus lábios? _ Ele sussurrou enquanto segurava meu queixo. Um sorriso tímido e zombeteiro pairou nas extremidades dos seus lábios. Era tão másculo que se assemelhava a um leão se expondo ao sol.
_ Não sei... _ Minhas palavras soaram quase inaudíveis. Minhas forças me traíam, quase desfalecia de prazer naqueles braços.
_Vou medir com um beijo cada centímetro deles... Agora... _Balbuciou ele com a voz rouca incontida de desejo. Senti o descompassar do coração. Meus lábios foram silenciados pelo toque daquela boca quente...Subjugando-me ao delírio... Eu, louca, enfim me rendia àquele “estranho”, uma doce selvagem que dantes nunca se entregara... Uma presa que não queria ser liberta. Nunca mais...
***Se a louca sensação de um beijo pode encurtar a vida em apenas três minutos... Mesmo sendo um sonho, eu queria morrer hoje...**