Ia sair com as amigas. Combinamos
um passeio pelo shopping, com direito a happy hour. Coloquei uma roupa legal,
fiz uma maquiagem suave e me agradei do que o espelho refletia, apesar da
tristeza de alguns meses hospedada no meu coração. Terminar um relacionamento
nunca foi fácil, mas aquilo já vinha se arrastando há tempo demais. Por que não
diminuía a intensidade da dor? E era mais doloroso fingir que eu estava
superando, quando, na verdade, parecia que eu tinha um cupinzeiro fazendo
túneis no meu peito. Ia passar, ia passar...tudo passa. É questão de tempo, só
de tempo. Mas que droga de tempo é esse tão lerdo??? Olhei em volta, meu quarto
antes arrumado, muito menina, bem Poliana, estava um caos. Faltava-me ânimo
para fazer qualquer coisa. Se me deixassem, ficaria deitada , olhando para o
vazio do teto, relembrando tudo, num masoquismo besta de uma saudade insana.
Como eu havia sido feliz!!! Nunca amei tanto alguém! Talvez esteja aí o meu
grande erro: ter lhe dado a segurança do meu amor, a certeza do meu sentimento.
Fui verdadeira, fui intensa... fui boba. Ah, não fui, não fui, não. Se é
preciso jogar com alguém, a relação não vale a pena. Mas se eu pudesse voltar
no tempo, se eu soubesse o que eu sei agora...Ah, não teria mudado nada, não é
mesmo? Quando a gente quer alguém, a gente corre atrás, a gente insiste, a
gente não desiste. Não foi assim. Não deu certo, não deu. Pronto...Eis o que me
incomoda, o que mais me machuca: a indiferença, o tanto faz, o não me importo.
Olho para o espelho, as lágrimas escorrem, manchando a maquiagem. Na verdade,
não sinto a menor vontade de sair, de conversar, de ver alguém. Queria ficar
deitada, olhando para o vazio do teto... E o que isso vai fazer mudar? Nada. O
telefone toca, são elas, perguntando o porquê da demora. Digo que já estou
descendo. Retoco, às pressas, a maquiagem, dou um suspiro profundo e percebo
que lá fora a tarde azul e morna espera mesmo que eu saia. Fecho a porta do
quarto. Ainda hoje vou dar uma arrumada nele. Quem sabe não é um bom começo?
Arrumo o quarto hoje; amanhã, o coração...
Por: Anne
Mahin - Murmúrios da Alma